sábado, 19 de setembro de 2020

QUANDO CRIMES SÃO PRATICADOS ATRÁS DA MÁSCARA DA RELIGIÃO

 




            A imprensa brasileira estampou nos últimos dias de agosto de 2020 dois personagens do universo evangélico brasileiro, com projeção na política nacional, denunciados como protagonistas de supostos crimes que chocaram o país. Temos consciência que o ser humano, em estado de depravação total, está sujeito a toda sorte de vilezas morais e não raro imiscui-se em práticas reprováveis. A denúncia de supostos crimes de corrupção e assassinato, entretanto, não foi praticada por pessoas avessas à religião, mas por líderes religiosos que granjearam certa notoriedade no cenário nacional.


Esses escândalos ocorridos ensejam-nos três alertas:


            Em primeiro lugar, a malignidade do pecado. O pecado é muito sutil. Ele aninha-se primeiro no coração. No começo parece um fiapo podre, mas depois torna-se correntes grossas. No começo é apenas um filete d’água, depois vira um oceano. Um abismo vai chamando outro abismo. O pecado vai tomando conta da mente, das emoções e vai, também, determinando o comportamento. O pecado é maligníssimo. É o pior de todos os males. É pior do que a própria morte. O pecado afasta o ser humano de Deus, rompe sua comunhão com o próximo e destrói a vida por dentro. A ganância torna os homens amantes do dinheiro e por amor ao dinheiro, a raiz de todos os males, homens que se diziam honestos, envolvem-se com esquemas de corrupção, assaltam os cofres públicos, buscam enriquecimento ilícito e maculam a honra do evangelho. Pessoas que outrora acenavam ser protagonistas de caridade, passam a amar o poder, a gostar dos holofotes e para alcançar seus interesses, dispõem-se, inclusive, a eliminar qualquer pessoa que se interponha em seu caminho, ainda que seja alguém da própria família. Oh, acautelemo-nos da malignidade do pecado!


            Em segundo lugar, a insaciabilidade da cobiça. A cobiça é a mãe de muitos outros pecados. Nesse ventre maldito são gestados desejos perversos. Ali se aninham víboras peçonhentas que picam como basilisco. Aqueles que não se contentam com o que têm, vivem insatisfeitos e jamais se fartam. São sempre ávidos por terem mais, por querem mais e, para alcançar esses anseios egoístas, fecham os olhos à sensatez, tapam os ouvidos à voz da justiça e avançam, açodadamente, contra a vida, a honra, os bens, o nome e a família do próximo. Para consumar seus propósitos nefastos, fazem aliança com comparsas da mesma laia, e assim, na mesma medida que conservam as máscaras da religiosidade, como ratazanas esfaimadas, mordem sem piedade os parcos recursos que deveriam assistir os necessitados e afastam de seu caminho, com requinte de crueldade, qualquer pessoa que possa contrariar seus escusos e inconfessos interesses.


            Em terceiro lugar, a inevitabilidade das consequências. Toda causa tem um efeito. Todo crime tem uma consequência. O engano do pecado, porém, torna a pessoa cega e seus praticantes destituídos de racionalidade. O transgressor imagina que não será apanhado na prática de seus desvios. O pecado, porém, vai cobrar de seus súditos um preço mais caro do que gostariam de pagar, vai levá-los mais longe do que gostariam de ir e vai retê-los mais tempo do que gostariam de ficar. O pecado produz vergonha e opróbrio. O dinheiro roubado torna-se combustível para a destruição daquele que o surrupiou. O sangue derramado torna-se uma voz a ressoar nos ouvidos de Deus, clamando justiça. A verdade dos fatos é que o crime não compensa. Ele destrói tanto aquele contra quem é praticado como aquele que o pratica. O crime, porém, é mais perverso e mais escandaloso quando praticado em secreto por aqueles que o condenam em público. O crime é mais trágico em seus efeitos quando é manejado pelas mãos daqueles que se dizem cristãos, pois ao praticarem o que condenam, abrem caminho para que o nome de Deus seja blasfemado entre os descrentes.


            Que Deus tenha misericórdia de nós, livrando-nos de tropeços e escândalos. Que Deus tenha misericórdia de sua igreja, para que ela não seja levedada pelo fermento da hipocrisia. Que Deus tenha misericórdia da nossa nação, para que nessa terra jamais prospere a injustiça e a violência. Que Deus nos livre, sobretudo, daqueles crimes que vêm acobertados pelo manto da religião.


Rev. Hernandes Dias Lopes

Versículo do Dia

  Versículo do Dia Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Lucas 6:36